domingo, 6 de novembro de 2011

O mercado de Crédito e a Odontologia

O atual momento econômico brasileiro tem dividido opiniões entre os principais analistas e neste ambiente de discussão acabamos por perceber que a tomada de decisão por parte dos profissionais que atuam na área de saúde, mais notoriamente, a odontologia, se vê em mais um capítulo de seus vários dilemas.

Hoje o que se discute em termos de estratégia é como se posicionar ante um crescente mercado onde muito se diz do crescimento da classe chamada de emergente, as classes E, D e C, no entanto, cabe uma reflexão sobre o que chamo de miopia econômica, muito mais oriunda das manobras políticas do que o crescimento propriamente dito. Não resta dúvida que a nova classe média é a sensação do momento, mas as classes A e B crescem em proporções consideráveis, hoje são 20 milhões de ricos e serão 30 milhões em 2014 (dados da revista Exame).

Não é raro, em nossos trabalhos de campo, nos depararmos com a costumeira pergunta, ou até mesmo discussões sobre decisão já tomada, em se abrir um consultório em áreas periféricas objetivando aproveitar a expansão das classes, até então, menos favorecidas, se esquecendo quase por completo das demais. Não há nada de errado em expandir seus negócios, o que se discute é a qualidade e a forma de se trabalhar, onde para se obter sucesso é necessário trabalhar com base na liderança de custos, já para as classes A e B se deve trabalhar a diferenciação.

Na verdade o que eu chamo a atenção é que a nova classe emergente hoje obteve, e com méritos, acesso ao crédito o que não nos dá a certeza da manutenção dos níveis atuais de consumo, ou seja, o Brasil cresceu 61% do PIB a oferta de crédito, enquanto a América Latina 42%, os BRICS 35%, Países do Euro 24% e os EUA apenas 4%.

O comprometimento com a renda anual com endividamento dos brasileiros saltou de 18% em 2006 para 30% em 2011, enquanto na Alemanha e EUA este endividamento chega a 32% da renda anual, o que nos indica que nosso grau de endividamento é semelhante aos de países desenvolvidos. Outro ponto que chamo a atenção, mais uma vez, é a forma que esta nova classe recorre ao crédito, via cheque especial e cartão de crédito, na qual o primeiro obteve uma alta de 27% em 2011, totalizando um juro anual médio de 185%, já o cartão de crédito alcançou as marcas de 14% e 238% respectivamente.
A consequência disto tudo é que os juros pagos por brasileiros, mais propriamente as classes emergentes, representam 58% seus gastos mensal ficando o restante de 42% para pagamento do principal e a inadimplência chega ao patamar de 22%.

Para se ter uma idéia do perigo que esta expansão, sem a conscientização do uso racional do crédito, pode trazer aos negócios em geral é que 67% da população não sabem o quanto pagam de juros em suas operações de crédito, 28% sabem e 5% nem ao menos responderam a pesquisa realizada pela Revista Exame (fonte IPSOS). Desses 67%, 87% representam classes D e E, 71% classe C e 46% classes B e A.

De 2003 a 2009 as classes A e B, cresceram 41 e 38% respectivamente, enquanto a classe C respondeu por um crescimento na ordem de 34%, com regressão de 12% na classe D e de 45% na classe E.Segundo relatório do Centro de Políticas Sociais da FGV-Rio, entende-se como definição de classes econômica famílias com rendimentos observados abaixo:
RENDIMENTOS CLASSE
De 9.050 reais acima A
De 6.941 a 9.049 reais B
De 1.610 a 6.940 reais C
De 1.008 a 1.609 reais D
De 0.000 a 1.007 reais E

Ainda dentro dos levantamentos realizados nota-se que enquanto as classes ascendentes (classes C/D/E) gastam 1,5 bilhões em plano de saúde as classes A e B gastam 1,4 bilhões, alcançando uma quase paridade, que, no entanto é enganosa, pois a massa populacional é desproporcional, além da oferta de planos populares, sendo que nestes dados os gastos com odontologia não aparecem.

Outros dados que colaboram com a tese que queremos comprovar é que as classes mais baixas gastam com vestuário 5,5 bilhões, ante 2 bilhões das demais, já os gastos destinados a cabeleireiro 727 milhões contra 280 milhões, festas e cerimônias 544 milhões ante 385 milhões, e o mais alarmante os gastos com remédios chega para as classes C, D e E ao montante de 3,5 bilhões, enquanto as classes A e B consomem 1 bilhão.

Para concluir tenho observado uma grande disposição de muitos profissionais em expandir seus negócios com o intuito de atender a esta massa crescente, no entanto, como podemos observar que gastos com saúde, principalmente saúde bucal, não estão nos planos desta classe ascendente. Outro quesito importante é que pela própria definição de classes o rendimento familiar não é tão elevado a ponto de se destinar um percentual para gastos com odontologia, ficando isso a cargo dos planos de saúde que embutem o tratamento, a preços irrelevantes, no valor do plano assistencial.

E por final digo que, embora os avanços sejam significativos, a renda não cresceu suficientemente para suportar gastos com a saúde bucal que historicamente vem sendo tratado de forma curativa, o que se observa é que houve uma considerável expansão e acesso ao crédito e que as classes emergentes destinam a bens de consumo como celulares, computadores portáteis, tênis e vestuários entre outros, além da prestação do sonho de consumo, o automóvel, não deixando espaço para outros cuidados. Logo só nos resta saber, até quando haverá crédito suficiente para se manter este padrão. Como já podemos observar já existem sinais negativos, inflação em alta, inadimplência crescente entre outros fatores, o certo é que estão esquecendo-se de uma importante classe que em suma poderá (e irá) suprir a falta de demanda que já estamos avistando em um horizonte não muito distante.

Fica então um conselho, diversifique, mas trabalhe com diferencias e dentro da realidade de cada mercado, tomem como base o histórico do Grupo Pão de Açúcar, uma bandeira específica para cada público, uma marca específica para cada consumidor.